samedi 21 mars 2009

Ainda sobre o salão...

...vale a pena comentar :

. as pessoas vão com mochilas gigantes, carrinhos de compras ou malas de viagem de rodinhas para carregar os livros, dada a grande quantidade que compram.

. o mais engraçado é que tem uns que acho que só compram muito para falar que compram! Era com grande frequência que parava alguém e começa a falar : "Ai, mas sabe, olha, tenho uma lista enorme, já comprei uns tantos ontem, hoje vou comprar mais não sei quantos".

. o México era o país homenageado este ano e tudo correu normalmente, apesar da pouca quantidade de livros originais à venda. No ano que vem, o salão não terá país homenageado com a idéia de destacar os próprios autores e a literatura francesa, além do que a literatura estrangeira é vista como mais elitista enquanto o salão terá a intenção de ser mais acessível ao grande público. Em 2008, o país homenageado foi Israel, escolha que gerou alguns problemas como boicotes, a queda de público e até uma ameaça de atentado.

. é so brasileiro que pede desconto! "Tem desconto para brasileiro?", "Tem desconto aqui no salão?", "Não tem desconto porque é o ultimo dia?", "Ai, não tem nenhum desconto?"

. destaque para o estande o Asterix que imitava a vila com casinhas de papelão, mesinhas de madeira, caminhos no chão, réplica do Obelix, etc.

. destaque negativo para alguns estandes de mangás que mais pareciam lojas na 25 de março, com artigos japoneses pendurados de todas as formas.

. os grandes estandes contavam com espaços reservados onde faziam festinhas particulares e algumas reuniões.

. os expositores tinham um lugar reservado bem simpático, com uns sofás e algumas mesas para reuniões ou para uma pausinha. Eles ofereciam café, chocolate quente, suco e coca-cola.

O estande do Brasil

Durante o salão, trabalhei em três estandes diferentes que eram associados, e tinham mais ou menos os mesmos responsáveis : o do Brasil, o da livraria Portuguesa e de Portugal e o das éditions Chandeigne (onde estou fazendo estágio).

O estande do Brasil é organizado pela Biblioteca Nacional, quer dizer, eles alugam o espaço para o estande, e contratam uma pessoa autônoma para ser a responsável durante o salão aqui na França (e que, por acaso, também cuida do estande brasileiro em Frankfurt). Uma outra pessoa que trabalha para o Biblioteca Nacional também vem para o salão, mas ela fica mais concentrada em reuniões e contatos.

Diferentemente do estande de Portugal, o brasileiro não tem nenhuma ajuda da embaixada aqui na França; este ano, a única pessoa da embaixada que apareceu no salão foi uma secretária, recém-chegada no país. Com verbas limitadas, o estande do Brasil não costuma ter nenhuma bebida ou canapé, seja na noite de abertura, seja para oferecer para algum cliente mais importante, como acontece nos outros estandes. Portugal, sim. Não tinha nada grandioso, mas um bom vinho do porto e outros vinhos portugueses não faltaram na abertura e nem no dia que uma ilustradora veio fazer pequenos desenhos para os compradores do Les Portugais à Paris.

Sobre os livros que estão presentes no estande do Brasil, eles são de 2 naturezas : alguns vêm da Livraria Portuguesa e Brasileira, que deixa os livros sobre Portugal no estande de Portugal e manda os livros sobre o Brasil pro estande do Brasil. E o restante, e maior parte, vem do Brasil. As editoras brasileiras doam alguns livros para a BN – pode ser algum livro que não vende, algum bom para fazer propaganda. Isso depende muito da editora, umas mandam vários, outras só um ou outro, etc. E então, a BN manda esses livros junto com algumas publicações próprias.

O resultado é que às vezes faltam os grandes livros brasileiros em português, (que não são doados), mas que geralmente existem em francês na livraria. No entanto, muita gente procura o estande do Brasil ou de Portugal com a intenção de aprender o português (sobretudo o brasileiro, como eles falam aqui) e nem sempre é fácil de indicar a literatura que temos no estande. Seria muito interessante ter livros bilíngües, vendi vários exemplares do Une singulière jeune fille blonde do Eça de Queiroz em edição bilíngüe para pessoas que estavam estudando português.

O valor arrecadado com todas as vendas no estande é repassado para a BN, e os livros que sobram são comprados pela Livraria, que às vezes faz boas promoções com eles e o restante vai para a embaixada que se encarregada de distribuí-los (às vezes mandam para instituições, bibliotecas, etc.). Mas o preço dos livros favorece muito as vendas : sem o preço da importação, e com a conversão para o euro, os livros acabam ficando bem acessíveis para quem recebe em moeda européia.

As vendas esse ano foram boas, sobretudo na terça-feira. É interessante comentar sobre o grande interesse pelo Brasil : as pessoas procuram muito mais o nosso português que o de Portugal, o estande do Brasil ficava em geral mais cheio que o de Portugal, mas as pessoas que procuravam Portugal geralmente sabiam melhor o que queriam, enquanto o Brasil tinha uma quantidade maior de curiosos.

Le Salon du livre de Paris

Acho que a melhor forma de falar sobre o salão do livro Paris é fazer alguns comentários de acordo com cada dia da semana.

12 de março, quinta-feira : para os grandes estandes (Gallimard, Actes-sud, Hachette, etc.) o trabalho de quinta pode começar mesmo na quarta. A idéia é a seguinte : você, geralmente um estagiário contratado pelas editoras, chega e encontra milhões de caixas fechadas, com milhões de livros dentro e o objetivo é organizar tudo isso de forma coerente, organizada e bonita. De uma forma que, às 19h esteja tudo perfeito pois é quando acontece a abertura oficial, apenas para os expositores e seus convidados, é claro, porque, de fato, a soirée é muito bem feita! Champagne, vinho, sucos e outras bebidas acompanhadas de comidinhas (de canapés de salmão até batatas chips) e docinhos (macarrons, básico! e outros mais requintados), tudo isso dependendo da preparação do estande. Bom, a noite termina com a galera fumando no meio dos estandes, copos em cima dos livros e por aí vai...

13 de março, sexta-feira : abertura normal para o público, nenhuma festa e é certamente o dia com mais crianças, mas sem grande movimento. Mas é sempre bom ter na ponta da língua respostas para perguntas como : “Onde a gente acha o Naruto?”, “Onde é o espaço picnic?”, “Onde eu acho os mangás?”, Vocês têm cartazes?”, etc.

14 e 15 de março, sábado e domingo : certamente os dias com mais gente. Nos corredores principais quase não da para andar. O fim de semana ainda conta com a presença dos principais autores franceses dando autógrafos.

16 de março, segunda-feira : é a journée professionnelle destinada a bibliotecários, escritores, livreiros, editores, e todos os outros profissionais ligados ao livros. O salão não fica tão cheio e apresenta palestras interessantes e mais direcionadas para esse público. No entanto, o salão fecha mais cedo, às 18h30, ao invés de 20h, como nos outros dias.

17 de março, terça-feira : é o dia mais difícil porque tem o horário noturno! É, o salão fecha às 22h. Ou seja, das 9h30 às 22h! Mas no fim das contas foi o dia que deu os melhores resultados de vendas. À noite também acontecem algumas festinhas, algumas são privadas, precisa de convite ou então de uma carinha simpática, e as comidinhas nem se comparam com as da abertura, mas o champagne continua por lá, e eu arrumei até uma maça de amor!

18 de março, quarta-feira : o último dia. Teve bem pouco movimento, dia para fugir um pouquinho do estande, ver um pouco o salão, comprar alguns livros, conversar e se despedir até às 17h quando o salão fecha e todo mundo começa a colocar todos os livros não vendidos nas caixas de onde vieram.

lundi 9 mars 2009

Problemas bibliotecários

As opções culturais em Paris são infinitas. No entanto, elas são sempre acompanhadas de muita fila : 2 horas para entrar na exposição do Petit Nicolas, 2h30 para subir nas torres da Notre-Dame, 1h para almoçar no restaurante universitário no domingo e por aí vai... Mas tudo isso é meio previsível e não acontece só em Paris, o que me inquieta mais são filas em bibliotecas.

Sim, pra entrar em algumas bibliotecas de Paris é preciso esperar, muitas vezes, até 3 horas em pé em uma fila. E não é porque as bibliotecas são pequenas, como é o caso da BPI e da BNF que são enormes, mas que apresentam em seus catálogos, além do tradicional, livros específicos e extremamente recentes, motivos que atraem a grande parte do público.

Ok. Isso e todas as políticas de digitalização de acervos faz pensar na França como o grande modelo a ser seguido, no entanto, nem todo mundo está contente. Depois de algumas aulas e da leitura de alguns artigos de Anne-Marie Bertrand (madame bem reconhecida no mundo das bibliotecas) até parece que existe algo melhor e que tudo isso apresenta alguns problemas.

Mesmo que o sucesso de público de uma biblioteca seja essencial para a sua legitimação e para o seu poder de barganha nas definições de políticas públicas, os bibliotecários estão infelizes por não encontrarem em suas bibliotecas o público que esperavam. Com suas bibliotecas cheias de eruditos, intelectuais e estudantes (que já sabem o que querem numa biblioteca e não dão grande importância ao bibliotecário), ele se sente desvalorizado pois considera como sua função o incentivo e a orientação de um público que ainda não tem o hábito da leitura nem costuma frequentar bibliotecas. A presença de um público mais intelectual intimida esse público que viria das classes mais baixas e ainda não tem grande acesso à cultura.

Além disso, parece que os EUA são o grande exemplo a ser seguido. Diferentemente da França, que teve a implantação de suas bibliotecas ligada mais à conservação patrimonial do que ao incentivo da leitura pública, as bibliotecas nos EUA vieram de uma reivindicação popular e seriam então mais adaptadas às necessidades do povo. Algumas bibliotecas universitárias, por exemplo, ficam abertas 24 horas por dia devido às necessidades de alunos que precisam (ou gostam de) estudar durante à noite e não podem fazer isso em suas casas. Mas também contribui o fato das bibliotecas municipais fazerem parte da vida da cidade, sendo que a sua preservação não é somente um problema dos órgãos administrativos, mas faz parte das preocupações pessoais de cada cidadão.

vendredi 6 mars 2009

Jeitinho

Houve um tempo, em que, na França, não se podia publicar qualquer coisa. Não porque houvesse um controle de qualidade dos livros, mas sim uma censura que proibia livros do tipo revolucionário e pornográfico. Mas é claro que a proibição dos gêneros só fazia com que eles fossem os livros mais procurados e lidos da época.

Para controlar tudo isso, um tal de directeur de la librairie era o responsável por dar ou não o Privilège du Roy, necessário para um livro ser impresso na França. Mas, como não conseguiam o tal privilégio, os livros proibidos começaram a ser impressos em países vizinhos, como a Suíça e a Holanda. Vendo os ateliers de impressão de outros países se desenvolvendo às custas do mercado francês, o directeur de la librairie começa a adotar uma nova postura.

Utilizando o que ficou conhecido como Permission orale, ele dava uma permissão para um impressor francês imprimir uma obra proibida, mas lhe aconselhava a esconder bem a sua produção e a apresentar na sua page de titre um endereço no exterior, informando que a obra nao teria sido impressa na França.

Essas permissões deram origem a histórias interessantes como o excesso de preocupação na falsificação dos lugares de impressão: “À Rome à l’imprimerie du Saint Père » para a obra L’enfant du Carnaval (pornográfica, é claro); e o fato do próprio directeur de librairie ter tido que esconder vários exemplares de uma obra proibida na sua própria casa porque era um dos únicos lugares que não seriam revistados.

dimanche 1 mars 2009

Problema de foco

Logo após uma noite de quarta-feira, com jogo, é claro, o que definitivamente não é fácil é acordar no dia seguinte. No metrô, indo pra aula, devido à dificuldade de focalizar as letras do jornal gratuito, que comentava o quase sucesso do Lyon no jogo da noite anterior, lembrei de algo que tinham me falado uns 7 anos atrás :

“Você sabia que faz mal pra vista ler nos meios de transporte?” Eu me encontrava exatamente na mesma situação que hoje, o ônibus balançava e eu tinha um pouco de dificuldade em toda hora ficar me achando no texto. O moço continuou : “sou oftalmologista e o problema é que a necessidade de ficar focalizando toda a hora força a vista.”

Bom, aquele dia, fechei o livro e logo depois pensava sempre sobre isso, não queria ficar cega! Depois eu esqueci... e continuei lendo. Hoje, quando voltei ao que estava acontecendo ao meu redor, vi que das 7 pessoas que estavam no meu campo de missão, 6 estavam lendo no metrô. Sem mesmo me questionar, voltei a ler. No pior dos casos, é possível processar os jornais gratuitos (20 minutes, Metro, MatinPlus, Direct Soir, etc.) caso algo aconteça.

Publicações esportivas

Grandes eventos esportivos são sempre muito empolgantes! Além da quantidade de pessoas que envolve, a diversão é garantida. Mas algo que eu percebi que nunca falta também é uma pequena publicação do evento. Geralmente é uma revista, mas pode ser também um jornal.

O jogo de Lyon e Barcelona teve uma revista, de formato grande mas não com muitas páginas. Como todas as outras, ela não tinha uma grande preocupação estética, mas também não era feia. No geral, elas tem um design aceitável.

Apesar de sua grande intenção ser mais relacionada à publicidade dos patrocinadores do evento, elas acabam tendo muitas utilidades :

1. souvenir;
2. informar aqueles que estão lá só pelo evento e não necessariamente porque acompanham determinado esporte (situação do campeonato, os melhores jogadores, etc.);
3. entreter os torcedores em momentos de pausa da partida ou caso ela fica chata;
4. mas é incrível como em grande partes das vezes, essas publicações terminam sobre os bancos sujos ou molhados servindo pra galera não sujar a calça.