jeudi 28 mai 2009

Tênis em quadrinhos

A França continua movimentada e o evento da vez é Roland Garros : uma cobertura televisiva intensa – jogos, entrevistas, melhores momentos, comentários – , esquemas especiais de transporte, jogos atrasados por causa da chuva e jogos incríveis, mesmo com um super sol. Pois é, mas o que é que tudo isso tem a ver com esse blog?

Para começar, mal tínhamos encontrado a nossa fila para entrar, veio uma gentil pessoa nos oferecer a revista do dia, com a programação dos jogos, entrevistas e todas aquelas curiosidades para os intervalos das partidas. Falei na hora : “Eu quero!” Ao que o cara respondeu: “4 euros!” O quê??? 4 euros? Sendo que no ano retrasado tinha sido de graça? De jeito nenhum, afinal, certamente algum rico ía comprar e depois largar em algum lugar para eu encontrar. Foi o que aconteceu!

Mas isso não é o mais importante! Quando você compra o ingresso para Roland Garros, você compra um lugar em uma das quadras e então pode assistir a todos os jogos que vão acontecer lá. Como um jogo é logo depois do outro, se você decide assistir todos, você fica lá desde as 11h até as 21h, o que não é muito razoável. Então, Roland Garros (que é, na verdade, é o nome do clube onde acontece o campeonato, e não o do próprio torneio) tem toda uma estrutura, um pequeno mundo, para os momentos fora das quadras : lojas com produtos oficiais Roland Garros, loja Adidas, Lacoste, lojas de marcas de raquetes de tênis, Al Jazeera, restaurantes caros, sorvetes Häagen-Dazs e um simpático museu!

Afinal de contas, onde seria um museu sobre o tênis senão em Roland Garros?! O Museu é bem simpático, apresenta fotos de todos os vencedores (você descobre os brasileiros quando vê alguém procurando o Guga), uma exposição sobre a evolução do esporte, das roupas, dos calçados, das raquetes, a composição do saibro, etc. E o espaço ainda conta com uma pequena biblioteca especializada, é claro, no tênis.

Mas além disso, este ano, o museu tinha uma exposição temporária sobre o tênis nos quadrinhos. Uma ótima idéia! A exposição é dividida de acordo com os temas apresentados nas várias historinhas, que são apresentadas das mais diversas formas : reproduções grandes, em destaque, HQs em francês, inglês, alemão. Em um cantinho, eles fizeram um espaço leitura para as crianças (e adultos também) com alguns HQs evocados na exposição. No final, uma longa parede apresentava a ficha (Mickey, 1,26m - Backhand com duas mãos – jogo de fundo de quadra) de todos os personagens de HQ que já foram jogadores de tênis.

Mais conveniente, impossível! Atrai o público porque tem o tênis como tema, cativa porque se trata de quadrinhos, acessíveis a todos, coloridos e visualmente agradáveis, e se adapta muito bem ao evento e a cada visitante, já que pode ser vista em 2 horas ou em 15 minutos.

mardi 26 mai 2009

Adaptações da literatura para o cinema

O Festival de Cannes acaba de acabar e, em homenagem a todo esse tempo em que o festival foi assunto número 1 na França, voilà um post sobre cinema. Mas, na realidade, tudo começou há um tempinho atrás quando, pensando sobre alguns temas interessantes para palestras sobre editoração, comecei a me perguntar sobre as interações entre o cinema e a literatura. Um assunto que não vemos em sala de aula, mas que se desenvolve cada vez mais.

Algumas informações sobre o assunto vieram num belo dia chuvoso, às 21h30 da noite, quando meu namorado se deu conta de que não tinha comprado (e precisava comprar) a edição número 20.000 do Le Monde. Como era um pouco tarde e, em Lyon, as lojas não ficam abertas de jeito nenhum à noite, a nossa única esperança foi a estação de trem : deu certo! Depois de descer de bicicleta até a estação (observe que chovia), achamos a linda edição número 20.000. E a minha recompensa veio junto : como era sexta-feira, o Le Monde veio com o caderno Le Monde des livres! E foi la que eu achei uma dupla inteirinha sobre a relação entre editoração e cinema (De l’écrit à l’écran – désirs d’adaptations / Do escrito à tela – desejos de adaptações).

O Dossier do Le Monde sobre o assunto começa mostrando que existem dois tipo de transposição de um livro para a tela : “a da arte e a do dinheiro, da poesia e da economia”. Sendo que, geralmente, a primeira é concebida e idealizada pelo cineasta (que busca uma aproximação cultural e tenta pegar o espírito da obra literária) e a segunda pelo produtor (que faz uma “vampirização” de assuntos já consagrados).

É assim que começam as questões sobre o que uma boa adaptação. E “quais são os critérios de um bom texto adaptável?” A produtora de Prends soin de toi, Michèle Halberstadt, diz que o essencial é a história, que o público quer um enredo. No entanto, mesmo se os autores não estão sempre de acordo com as adaptações que são feitas de seus textos, a maioria deles concordam que “todas as adaptações, mesmo as piores, levam os espectadores às paginas de seus livros.”

Mas e o editores? Considerando a multiplicação das adaptações das obras literárias, os editores passam à ofensiva e as reuniões com produtores ganham espaço em suas agendas nos salões e feiras do livro. No ultimo Salão do livro de Paris, conta-se uma média de 15 reuniões por editor. Além disso, eles começam a exigir mudanças nos contratos. À princípio, autor e editor têm direito a uma remuneração mínima garantida, mas também a uma porcentagem calculadas sobre a receita líquida do produtor obtida à partir das diferentes formas de exploração do filme. No entanto, os editores começam a se definir como um bloco para se impor e exigir algumas mudanças como “remuneração bruta, valorização do assunto, limitação dos direitos de adaptação”.

Por outro lado, o autores também se mobilizam já que têm a opção de se dirigir diretamente aos produtores. Em Mônaco, entre 19 e 21 de março, o Fórum cinéma et littérature, que existe há 8 anos, colocou em contato cineastas, cenaristas, agentes, autores e atores com o objetivo de ser “um banco de idéias internacionais para os profissionais do cinema, da literatura, da televisão, das HQs e dos jogos de videogame.

Inclusive, os quadrinhos acompanham as evoluções das adaptações da literatura para a tela. “Para a número 1 em HQ na França, a adaptação para o cinema se transformou em um comércio extremamente lucrativo, com um aumento de vendas entre 20% e 30%.” Além disso, alguns contratos de cessão de direitos audiovisuais permitem que os cenaristas de HQs participem do trabalho de adaptação ao cinema.

Minha opinião : eu adoro as adaptações e mesmo se as adaptações são ruins, elas estimulam a discussão e incentivam a leitura do livro. É uma forma de falarmos do cinema, da literatura e também de voltar um pouquinho a um livro que gostamos, ou não, e de ver que, mesmo se o que esta escrito é exatamente o mesmo para todos os leitores, a história que cada um lê é totalmente diferente.

mardi 19 mai 2009

Christine de Pizan

Após o post de boa conduta das mulheres, nada como um simpático post sobre Christine de Pizan. Alguém que me acompanhou por todo o meu primeiro semestre, já que ela foi tema de um trabalhinho meu. Mas para falar dela é preciso, claro, voltar à sua época, à Idade Média, aos manuscritos e ao comecinho da literatura. Mas também a um momento em que a noção de autor era muito diferente da que temos hoje. Direito autoral? Como? se a circulação dos textos dependia justamente da sua copia?! Como? se o único a poder criar algo era Deus? De qualquer forma, alguns dos textos dessa época fazem realmente parte da nossa cultura geral: quem nunca ouviu falar de Chrétien de Troyes ou suas histórias em torno da cavalaria, de Lancelot e da Távola redonda?!

Christine de Pizan é conhecida como a primeira escritora francesa que conseguiu viver à partir de sua profissão, mas também uma das primeiras escritoras/escritores a assinar e a organizar de verdade suas obras. De origem italiana, ela vem com o pai para a França e casa com um nobre que acaba morrendo muito cedo. Para sobreviver, ela começa a escrever e organiza um atelier de escrita onde ela faz também a cópia de outros livros.

É com frequência que ela aparece mesmo nas iluminuras dos seus manuscritos, muitas vezes ela está dedicando a sua obra a algum membro da corte ou então em um momento de trabalho. Essas representações, assim como o fato de assinar suas obras, mostram a organização de Christine, mas mais do que isso mostram uma tendência do fim da Idade Média que é a reivindicação da autoridade de uma obra. Mesmo se ela oferece sua obra à Corte, é ela que é representada com o livro entre suas mãos, ou escrevendo.

Além disso, a representação da Corte é importante pois pode ser também uma forma de agradecimento. O fato do pai de Christine ter trabalhado na Corte do rei Charles V, permitiu que ela entrasse em contato com toda a riqueza cultural dessa Corte (que não era acessível a qualquer um), o que lhe possibilitou uma boa formação e condições intelectuais de trabalho.

Christine escrevia tratados de política e de filosofia, mas também poesias e uma temática recorrente em suas obras é a questão das mulheres. Mesmo se muitos estudos apresentam ela como uma grande feminista, estudos mais recentes mostram que, por outro lado, ela nunca questionou a ordem social vigente. De qualquer forma, as mulheres estão presentes nas mais diversas cenas: na construção de uma cidade em La Cité des dames, no meio da cavalaria, na guerra etc.

Iluminuras no Catalogue of Illuminated Manuscripts de la British Library.

dimanche 17 mai 2009

O guia da boa esposa

Minhas aulas começam geralmente entre 9h e 10h30 da manhã, nada mal pra quem já teve que chegar na Armênia às 7h. Mas mesmo assim, é inevitável chegar às 9h e não reclamar do “pra que uma aula tão cedo?” A minha aula desta semana que começou às 9h, teve uma recepção toda especial : na bancada mais perto da entrada do anfiteatro, tinha uma série de papéis, normalmente os suportes de curso que os profs deixam, peguei o meu e fui sentar perto da minha amiga que já mandou um: “Você viu?” se referindo ao tal suporte de curso.

Mesmo se depois a prof explicou que a intenção dela tinha sido mostrar que nem sempre é fácil de encontrar as referências originais de um texto, o que ficou da minha primeira leitura matinal foi certamente uma bela lição de vida que eu acho interessante dividir, segue a tradução de alguns trechos do texto:

O guia da boa esposa (Le guide de la bonne épouse)

. Dê um jeito para que o jantar esteja pronto, é uma forma de lhe dizer que você pensou nele e que você se preocupa com as necessidades dele.
. Esteja pronta, retoque a maquiagem e esteja disponível e atenciosa.
. Arrume a bagunça.
. Reduza todos os barulhos ao mínimo. No momento que ele chegar, elimine o barulho da máquina de lavar ou do aspirador. Tente fazer as crianças ficarem calmas. Fique feliz em lhe ver. Receba-o com um caloroso sorriso e mostre a sinceridade do seu desejo de lhe agradar.
. Escute-o. Deixe ele falar antes, lembre-se que os assuntos dele são mais importantes que os seus.
. Jamais reclame se ele chegar tarde em casa ou se ele sair para jantar ou para ir em outros lugares de divertimento sem você. Não pergunte o que ele fez e nunca questione o julgamento ou a integridade dele. Lembre-se de que ele é o chefe da família e como tal ele exercera sempre sua vontade com justiça e honestidade.
. Assim que ele terminar de jantar, tire a mesa e lave rapidamente a louça.
. Ao que se refere às relações íntimas com o seu marido, lembre-se de seus votos de casamento e se seu marido acha que vocês devem dormir imediatamente, que assim seja. Deixe-se guiar pelos desejos dele e não faça nada para pressionar, provocar ou estimular uma relação íntima.
. Se seu marido sugerir o acasalamento, aceite com humildade não esquecendo que o prazer de um homem é mais importante que o da mulher; assim que ele atingir o orgasmo, um pequeno gemido seu o encorajara e será suficiente para indicar todas as formas de prazer que você possa ter tido.
. Você já pode agora ajustar o despertador de modo que esteja de pé um pouco antes dele de manhã; isso permitira que você deixe a xícara de chá dele pronta assim que ele acordar.

Quem quiser ler o texto na integra em francês é só procurar no google por “Ceci est la fidèle traduction d'un AUTHENTIQUE extrait d'un manuel scolaire d'Economie Domestique anglo-saxon, publié en 1960.”

jeudi 7 mai 2009

Cenas cotidianas

Um dia desses, estava lendo um capítulo do livro do Alberto Manguel (Une histoire de lecture) que falava sobre o interesse que geralmente temos em saber o que uma pessoa (mesmo que estranha a nós) está lendo. Justamente porque o fato de ler um livro, "escolher este livro e não aquele" diz muito sobre uma pessoa.

Estava lendo no ônibus e quando ele chegou no ponto final, eu estava quase no fim do parágrafo e então continuei lendo enquanto me dirigia para o metrô. Num certo momento, reparei que a cabeça da pessoa que andava do meu lado estava abaixo do meu nível de leitura : bizarro, mas ele deve estar arrumando algo no tênis; continuei lendo.

Logo em seguida, na escada rolante, a cabeça apareceu novamente! Quando reparei direito, vi que o monsieur queria ver o que eu estava lendo. Sinceramente, na hora começou a me dar uma raiva : que curiosidade e que invasão de privacidade, precisa enfiar a cara debaixo do livro que eu estou lendo?!

Mas aí me veio na cabeça tudo o que eu estava lendo, ou seja, a curiosa muitas vezes sou eu mesma (mesmo se eu tento ser um pouco mais discreta) : dei um soriso, mostrei a capa do livro e depois voltei pra minha leitura.

mardi 5 mai 2009

Detalhes de um livro antigo

Desde os incunábulos até os livro do século XVIII, mesmo que o livro evoluísse em alguns pontos, no geral, muitas características foram mantidas.

Mesmo se às vezes suas funções não são muito bem compreendidas, elas eram essenciais na fabricação do livro antigo e, hoje, servem como fonte de informação para estudos sobre a história do livro, já que geralmente apresentam características muitos peculiares de acordo com à época e o lugar que o livro foi feito (mesmo se essas informações devam constar na página de título, essas análises são muito importantes devido à existência de diversas falsificações e mesmo à destruição de diversas páginas de título).

Duas marcas importantes que encontramos nos rodapés dos livros, são as que, em francês, chamam-se signature e réclame. A signature serve para indicar quantas páginas têm um caderno e então o formato do livro. A signature tradicional tem as seguintes características :

- Cada caderno é representado, em ordem, por uma letra de A até Z, mas sem J e U que eram representadas por I e V e sem o W que não existia.
- Dentro do caderno, a primeira página recebe a notação A, a segunda Aij, Aiij, etc., até a metade do caderno.
- O número de páginas por caderno, informa quantas vezes a página em tamanho original foi dobrada até formar o caderno no tamanho do livro, definindo assim se ele é um in-folio, in-4°, in-8°, etc.

Já o réclame, que é uma palavra que aparece no fim de todo o caderno, é utilizado para que o encadernador saiba e verifique a sequência dos cadernos. Desse modo, o réclame corresponde à primeira palavra do outro caderno.

Acontece que, tanto a signature quanto o réclame, variam de acordo com a origem do livro. O réclame francês, por exemplo, é sempre a primeira palavra inteira do caderno seguinte, mas existem outros tipos, como réclames de uma página à outra (livros de fora da França ou dos séculos XV ou XVI), de uma coluna à outra, etc. Com relação às signatures, as variações são com relação ao posicionamento do rodapé da página, (no centro, à direita), à utilização de símbolos bizarros, de maiúsculas e minúsculas e da quantidade de páginas que recebem a notação ou não.